caio - procedimento de rotina

a partir da leitura de Caio Fernando Abreu, passei a olhar para a minha própria condição homossexual e a procurar nela uma consciência e uma poesia. Esse blog mostra todo esse processo de buscas e pesquisas.

terça-feira, 15 de março de 2011

O que FAZ dO HOMEM um HOMEM? instigação do Flavio Rabelo


oi amigo, já que você gosta e eu adoro, vou fazer um milhão de elocubrações a respeito do tema, não procure qualquer lógica, esse é o primeiro passo. Talvez o mais difícil. Quando se tem uma pergunta, não necessariamente se prescinda de uma resposta, né? Isso me faz Homem? Dar o cu me faz homem? me faz vivo, me faz amor, me faz. Então me interessa mesmo o que me faz homem? Esqueci de perguntar pro meu pai, ele deve ter uma resposta pronta nalguma gaveta perdida. Eu me fiz homem? Me pergunto a cada dia se me fiz gente, se me fiz alguma coisa da qual me orgulharia. Mas pra que mesmo? orgulho-me de ser inquieto, de aceitar em mim, na medida do aceitável, o inaceitável. Seria isso o que me fez não Homem com H maiusculo mas humano, homo sapiens? Teve um
cartaz da plataforma trampolim
tempo ainda na pré-adolescência, (e isso precisa ser dito muito baixo) que eu ficava querendo ser homem de algum modo, imitando os passos dealguém que eu considerasse homem, tentando a todo custo parar de rebolar, que coisa feia pra um homem é rebolar. Tentando não me apaixonar pelos meus colegas de sala. Feliz ou infelizmente isso não deu certo. Resolvi fugir, procurar um lugar qualquer, um outro lugar. Não existia outro lugar. Todos os lugares eram onde eu estava, eram todos um susceder de eternos aqui. Precisava mudar algo em mim, então?. Mas eu também não mudava, no máximo podia mudar como pensava a meu próprio respeito. Mas essa operação era muito mais lenta e trabalhosa do que eu imaginava. Por sorte encontrei uma sombra. Ela não se perguntava nada. Eu pelo menos não ouvia. Mas ela podia não ouvir-me tampouco. Isso fez um sentido muito grande pra mim. Não havia luta, eu criava a guerra, mas não havia luta. Parei e me sentei ali mesmo. A merda é que o tempo passava, naquele tempo o tempo ainda passava, e o que era frescor das sombras se revelava ao sol escaldante e cegante que tudo passa. Foi ficando triste ir olhando pro mundo assim, foi ficando chato nunca ser, e viver querendo ser alguma coisa. Não podia simplesmente ser o que se é e pronto? Não, a meteorologia dizia que não. Que o tempo não pode esperar, e que o eu nunca é. Tudo é a partir do que percebe o eu, mas o que percebe nunca é, o que percebe percebe tudo como sendo: o homem sendo homem, o cachimbo, o sapato o tesão, mas pra si mesmo por mais que se apegue no que seja, nunca é.
e isso não tem fim.
fim

(a pergunta do Flavio Rabelo é parte de uma obra de performance que ele realiza na plataforma trampolim)

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