caio - procedimento de rotina

a partir da leitura de Caio Fernando Abreu, passei a olhar para a minha própria condição homossexual e a procurar nela uma consciência e uma poesia. Esse blog mostra todo esse processo de buscas e pesquisas.

domingo, 23 de maio de 2010

IV ENSAIO PÚBLICO - 20.05


fotos: Mary Vaz

terça-feira, 18 de maio de 2010

RELATORIO -

RELATÓRIO: CAIO – Procedimentos de Rotina.
Maio/2010
Um dia, lendo um dos livros de Caio Fernando Abreu (os dragões não conhecem o Paraíso) , tive a impressão que os contos ali colocados, eram parte da história do autor. Era impossível, pra mim, que alguém conseguisse tanta verossimilhança, sem um envolvimento real com cada uma daquelas histórias.
                Interessei-me mais ainda pelos contos e por outros livros do autor. A idéia de realidade passada a limpo, não fugia da minha cabeça. Entendi aos poucos o que ele dizia quando escrevia que a literatura era um modo de se salvar, de sobrevir à vida. Era, pra mim, como se escrevendo, revendo-se, ele poderia se entender mais, se desculpar, se justificar, mas sobretudo se perdoar. Era assim que, me parecia, a literatura o salvaria.
                Eu também achava que o amor e o sexo haviam me tomado os anos.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

Jogadores Pelados

Cena real em que um jogador faz um gol com o pau e depois outros ficam pelados também!

sábado, 8 de maio de 2010

procedimento de rotina #2

Testes com Procedimento de Rotina no espaço de ensaio (fotos - Denis Costa)


Oi,
Sabe, depois de tudo  que aconteceu, e não aconteceu, parece sempre que ficaram coisas pra dizer.
Mas eu prefiro não, nem dizer mais nada. Me pego escrevendo, escrevendo, sempre as mesmas coisas. As mesmas coisas. Gostei desse nome: esse quadro vai se chamar as mesmas coisas. Bom, é preciso seguir a vida. Te amando, fingindo que te amo, fingindo que não amo ninguém. Enfim. A vida é isso.A vida é isso? Que merda! A vida é isso. Eu queria mais. Eu pensei que poderia querer mais. Mas sabe eu entendi também isso por sua causa, não dá pra querer mais. Só dá pra querer o que pode ser. O que não pode ser a gente não deve querer. Mas a gente não é assim. A gente quer sempre o que não tem, o que também parece obvio, porque se você tem pra que querer, não é?
Mas eu estou mais tranqüilo, teve um tempo em que até uma musica brega. Perai.Eu ficava ouvindo aquelas músicas que eu passei a odiar.  E gostava de ficar lembrando de como a gente era feliz. Feliz. Feliz, eu não sei se sei o que isso significa mais. Eu sei    que a gente é sempre feliz e infeliz, tudo ao mesmo tempo, você gosta disso? Você gosta de saber que amanhã, hoje, depois, pouco importa?
Eu me acostumei com o dia a dia. Me acostumei com o que sempre estive acostumado e que por uns dias. Dias? Meses? Anos? Quanto tempo afinal? Quanto tempo faz a gente se conhece. Quanto tempo faz que eu sei que poderia viver essas coisas que nunca mais poderei esquecer. Quase como um castigo, sabia? Eu não sei porque que a gente vive afinal. Não sei se a idéia de deus, não, Deus deve ser escrito em maiúscula. 

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Procedimento de Rotina #1


Sonhei que os vidros do perfume que você me deu derramavam seu líquido infinitamente no nada, eu não conseguia detê-los.

Nem sei se queria.

Ouvi você me chamar, eram três da madrugada, eu acho. Eu queria ter não sei que forças prá me levantar e te ver. Sem me importar de estavas bêbado, noiado, ou sei lá que mais drogas você anda usando. Mas eu não podia, eu sabia na minha cabeça que não podia. Só na minha cabeça eu sabia disso. Depois de chamar meu nome por umas três vezes, você ainda disse: sou eu, o Carlinhos, eu não reconhecia sua voz. Reconheci as inflexões, a construção léxica (nem sei se sei o que isso significa).

Queria que você tivesse ficado ainda um pouco parado mudo diante do portão, pensando em nós, de cara pro portão. Queria mesmo que tivesse chorado pelo menos um soluço de saudades. Nossa história. Assim eu teria forças pra permitir também uma lágrima.

No dia seguinte me debati pensando se eu te causava alguma dor. Se era realmente você. Se você ficaria parado de cara pro portão.

Eu tinha que acabar com isso sem querer. Porque não dava mais pra mim. Eu não queria não te querer, mas eu tinha que não te querer mais.

Foi bom encontrar os vidros de perfume ainda cheios, e foi bom amanhecer. Ao contrário de quando a gente dormia juntos, agora era bom amanhecer. Agora era, era bom que o tempo passasse. Me ajudava em alguma coisa, que eu ainda não sei o que é.

Assim como me ajudava não pensar mais em nada. Tentar nem gostar nem desgostar da saudade que eu sentia do teu corpo.

Tentar pensar que ainda estava bem, que tudo estava bem, mesmo que não fosse exatamente assim, também ajudava. Porque na verdade tudo estava bem.

Eu vou te procurar e dizer que não me procure mais as três, nem quatro nem nunca. Eu também não quero fazer isso, mas vou fazer, eu tenho mais medo de mim do que de você agora. Eu tenho medo do que eu posso fazer pra mim mesmo, com as coisas que sinto, você já sentiu isso?

Eu fico inventando que não sofro nada, que é bom que tudo tenha acabado, que foi melhor pra todo mundo, que aquelas frases eram passageiras, que a vida é sempre passageira, e temos que nos desapegar...

Eu não quero te dizer nada disso, porisso estou escrevendo. Pra você mesmo eu não quero e direi: vamos acabar com isso? por favor!

E se tudo correr bem, eu me levanto sem arrependimento, te olho ainda nos olhos, e saio.

Se Deus me ajudar eu não olho nem pra trás.