caio - procedimento de rotina

a partir da leitura de Caio Fernando Abreu, passei a olhar para a minha própria condição homossexual e a procurar nela uma consciência e uma poesia. Esse blog mostra todo esse processo de buscas e pesquisas.

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

domingo, 22 de novembro de 2009

o retorno

que merda, afinal de contas, é o amor??

sábado, 14 de novembro de 2009

sábado, 7 de novembro de 2009

piadas e mais piadas

Um cara chega no médico e pergunta:
- Doutor, doutor! Tenho um problema: não sei se sou homossexual e quero saber se você pode fazer um teste para diagnosticar.
- Bem, vamos ver.
O médico lhe agarra um testículo e pede:
- Diga noventa e nove.
- Noventa e nove - diz o paciente.
O médico lhe agarra o pênis e fala:
- Diga noventa e nove.
- Noventa e nove.
O médico mete o dedo no cu do sujeito e lhe diz:
- Diga noventa e nove.
- Ai!!! Uuuiii!!!... Uuuuum..... doooois........ trêêêês.... quaaaatro.......
Enviado por: Ermelindo Vigliar - São Paulo - SP

Antigamente a homossexualidade era proibida no Brasil. Depois, passou a ser tolerada. Hoje é aceita como coisa normal... Eu vou-me embora, antes que se torne obrigatória.
Enviado por: Bruna Valério - São Paulo - SP

Uma bicha estava passando em frente a uma igreja católica, e como nunca tinha ido a uma igreja, resolve entrar, sentando-se no último lugar.
Ficou admirada ao ver o padre balançando o turíbulo, enquanto andava do pubito até o fundo da igreja, vindo em sua direção, quando o padre chegou bem perto da bicha eis que ela diz:
- O seu desfile foi ótimo, mas a sua bolsinha está queimando!!!

O bicha estava indo para igreja todo com o nariz todo empinado, com a bíblia debaixo do braço!
Quando passa um caminhão cheio de homem dizendo para o bicha:
- Seu viado, gay, queima rosca! Chup,chup !!
Aí o caminhão bate num poste e explode morre todo mundo!!! O bicha para olha para caminhão pegando fogo. Ele solta a bíblia no chão e diz:
- Jesus você arrazou !!!

Um grupo de bichas se reuniu num casarão lá no Recreio pra fazer uma festa da pesada, a maior baderna. E cada uma que chegava era anunciada pelo mestre de cerimônias.
- Vestida de Pavão Real, aí vem a Floflo!
Chega outra:
- Vestida de Cinderela Rosada, é a Barbarela!
E vem chegando bicha:
- Agora, vestida de polícia, uma bicha que eu não sei o nome. E outra...outra... É POLÍCIIIIIIIIIIIAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!

Uma bicha foi ao médico fazer exames de rotina:
(B): Vim fazer exames de rotina para saber como está minha saúde.
(M): Tire a roupa e vamos começar os exames.
A bicha tira toda a roupa e o médico começa a ouvir o coração, tirar a pressão e depois pede um exame de sangue. Uma semana depois o viado retorna ao consultório com os exames. O médico abre o envelope e se assusta:
(B): O que o senhor viu aí, doutor?
(M): O exame de sangue constatou que você está com AIDS.
(B): Mas não é possível, eu vou tomar veneno, cortar meus pulsos e me jogar do 10º andar de um prédio. Eu não posso continuar vivendo.
(M): Não se desespere: Vou-lhe dar uma fórmula que você vai tomar um mês: Pegue 1 litro de cerveja e misture com 1 ovo podre, 5 comprimidos de Lactopurga, 2 envelopes de sal de frutas, uma banana e leite de cabra puro.
(B): Mais isso vai me curar, doutor?
(M): Não, mas vai lhe ensinar pra que serve o CÚ.

Ia um ônibus de turismo com 40 bichas loucas a cantar e a desmunhecar, quando caiu no despenhadeiro. A única bicha a escapar do acidente, traumatizada, resolveu mudar radicalmente de vida. Entrou para um mosteiro e a vida que tinha era rezar pela alma de suas 39 'amigas', para que fossem perdoadas e alcançassem o céu. Um dia, já bem velhinho, o arrependido, à beira da morte, estava na capela a orar quando viu uma nuvem cor-de-rosa se aproximando dele. Levantou os olhos e divisou as outras 39 bichas saltitantes, de asas, batendo palmas e gritando em coro:
- Não era pecado, não era pecado...

merry christimas

Aonde vamos parar? Até Papai-Noel anda saindo com veados.
Enviado por: Renato Bras - São Paulo – SP

piada gay

O peão estava trabalhando no 18º andar de uma construção altíssima, quando, de repente sente aquela vontade de urinar.
- Posso descer para mijar? - pergunta ao encarregado.
- Pôrra nenhuma! Você vai perder muito tempo! Mije daqui mesmo!
- Como?
- Tá vendo aquela tábua ali? Você vai até a ponta dela e mija dali.
- Mas ela vai cair!
- Não se preocupe, eu fico na outra ponta para fazer o contra-peso.
Assim que o peão abre a braguilha e tira o pinto para fora, toca o telefone e o encarregado vai atender.
O pobre coitado despenca lá de cima.
Algumas horas depois estava o engenheiro da obra tentando entender o que havia acontecido, onde estava a falha da segurança, quando alguém arriscou um palpite:
- Eu acho que foi um "pobrema" sexual!
- Problema sexual? - indignaram-se os outros.
- Sim! Eu vi ele caindo... ele tava com o pinto na mão e gritava: "Cadê aquele viado? Cadê aquele viado?".
Enviado por: Wilker Wey - São Paulo - SP

manicomio

curta-se
http://www.piada.com/audio.php?i=9856&t=call%20center%20do%20manicomio

domingo, 20 de setembro de 2009

pelo menos

Pelo menos

Será que vou salvar a multidão num programa de tv?
Ou pelo menos ser entrevistado sobre aids hiv?
Será que vou ser o mais lindo do planeta e aparecer nas revistas com uma cara de buceta?
OU pelo menos me casar com italiano que só passa no Brasil as férias de fim de ano?
Será que vou criar uma seita milionária, e viro deus no último instante?
Ou pelo menos meus amigos, vão me achar interessante?

Será que já e careta escrever Romeu e Julieta?
Será que seria otário se eleger presidente operário?
Será que melhoraria minha imagem se eu descobrisse a clonagem?
Pelo menos muita miséria ainda dói ainda pra que eu possa ser herói.

...


E se nada der certo,
Tento me tornar artista contemporâneo.
Ou coordenador de cursos na universidade federal
Ou por via das dúvidas, tento outra vez, mais uma vez,
Ser, pelo menos,
legal.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Você sabia sorrir


sabia quando era a hora
sabia abraçar e beijar.
sabia quando era a hora
Sabia tocar,

Sabia em que lugares
sabia quando era a hora
sabia não saber a hora de voltar
sabia entar e ficar.
sabia mexer em todos os botões
sabia mentir
sabia que eu saberia
sabia chorar quando era necessário.
sabia quando era a hora

Sabia ficar.
Sabia que não saberia pra onde ir
Sabia que eu também não saberia
Sabia dizer que não e sabia voltar atrás
Sabia dizer que sim e não ter como voltar
Sabia que nunca acabaríamos assim
Sabia que tudo acaba um dia
Sabia que não era agora
Sabia o quanto era difícil
Sabia o quanto era fácil
Sabia fazer o jogo
Sabia que não era a hora

Sabia que horas eu chegaria
Sabia o que fazer e o que não fazer até lá
Sabia não ter ciúmes
Sabia chorar de amores
Sabia sorrir de favores
Sabia rir dos meus modos
Sabia abraçar, beijar, fornicar como ninguém
Sabia dosar cada carinho
Sabia dosar cada palavra
Sabia sussurrá-las no meu ouvido, no meu pescoço
Sabia pedir como ninguém
Sabia implorar se fosse preciso
Sabia zangar-se


Sabia menosprezar
Sabia lembrar de outros amores
Sabia quando era a hora
Sabia fingir displicência,

Sabia que isso irritava ainda mais

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

encontros com andersons


Foi assim

Essa é a historia.
Eu fui pra praia. É claro que eu tava querendo mais que o sol, porque já era fim de tarde e muito mais que o mar, porque a maré já tava alta.
Ele passa. Eu olho. Ele se volta. Finje que tava olhando pra qualquer outra coisa. Eu vou no encalço.
Ele para numa pedra e eu finjo que ia mesmo parar por ali.
-Oi.
-Oi.
-Qual seu nome?
-Anderson.
Como nunca viesse o “e o seu?”, eu disse – o meu é Jorge.
Tinha um cara surfando la no meio.
Já que ele não falou mais nada.- Você gosta de surfar?
- gosto.
Já que não veio um “e você?”
- eu também.
- Você sabe surfar? Emendei logo, antes que caísse aquele silencio de novo.
- sei.
E ai não tive como evitar um silencio bem comprido.
Examinei o corpo. As mãos. Os pés. As cochas. O tórax.
Disfarcei o quanto pude, claro!pra olhar tudo o que pudesse.
Ainda bem que depois disso. Ainda tinha o surfista, o mar e o fim de tarde, pra onde eu podia olhar além do corpo dele, e fingir que não queria nada.
Aí ele quebrou o silencio – tchau!
Tchau!? – o meu era mais sem graça que o dele.
Fui seguindo até ele sumir-se, e o segui o quanto pude.
Ele ainda olhou pra traz enquanto eu fingia que ia comprar umas frutas.
.....

Num outro dia eu vinha descendo com o Zé, uma mulher passou e nos pediu cigarro, a gente inventou uma desculpa e não deu. Ele vinha logo atrás e pediu cigarros também, antes que o Zé desse o cigarro dele pro cara eu tirei da minha boca e dei pra ele. Ele riu.
A gente continuou andando, eu olhei pra trás no mesmo instante em que ele olhou também, os dois fingiram qualquer coisa, pra não sorrir de novo um pro outro.

Era uma outra noite. A Coco me deixou na praça. Eu desci do carro, ele me apareceu do nada.
- Vai dormir logo?
Eu tava morrendo de sono e tinha que acordar cedo na manhâ seguinte.
- não. Respondi..
- eu vou la pra sua casa.
No meu fingimento de normalidade falsa dei umas gaquejadas. E fui sem pressa pra casa, pra não dá bandeira. Em menos de quinze minutos, dei uma visage total no ambiente. Fingi pra mim mesmo que estava relaxado e fumei um cigarro atrás do outro.

Bateram na porta.
Ele – oi!
Depois de uma lida sem nexo consegui abrir a porta – ele entrou.

Dentro da minha casa ele parecia ainda mais belo nos seus 23, 24 anos.

Foi um amor meio sem graça, naquela noite. Mas tinha uma esperança, que eu procurava onde ela estava, sem nunca encontrar em nada.

Ele não foi mais embora.

Problema.

Acho que eu não sabia viver com ou sem alguém.

Saia de casa ele tava dormindo. Eu chegava ele ainda estava dormindo.
Tinha um grande incomodo em ver minha casa invadida. Compreensível. Quanto tempo faz que eu não morava com alguém? Eu nunca morara com alguém.



Os vizinhos começaram a reclamar do som alto todos os dias.

Quando eu chegava encontrava um som bem baixinho na casa. Ele dormindo.

Eu perguntava, ele negava.

Sumiu uma sandália. Ele não sabia.

Eu comecei a me irritar. A gente se separa. Ele diz que para sempre.
No dia seguinte ele estava na porta.

- Posso dormir com você? So hoje!

- Ta bom.

- Eu te amo.
- Eu te amo.

O sexo era quase bom.

Ele não foi embora.

Num certo dia ele sai de casa, era sábado.
Daqui a pouco eu volto.

10, 11, meia noite, uma duas, duas e pouco...
Eu como não conseguia dormir fiquei todo tempo pensando as palavras que eu diria pra dizer adeus pra sempre de novo.

A mesma música – under my umbrella!! O tempo todo no som.

Duas e mais um pouco...
Bate na porta.

Eu abro correndo. Ele tá bêbado.

- Eu te amo.;
- Eu te amo.

O sexo foi quase ruim

Chorei sozindo, enquanto ele roncava horrores. E falava dormindo coisas que eu me esforçava em vão pra entender.



No domingo ele também saiu pra voltar logo e depois das 11 ele apareceu.

- Eu to na praça com uns amigos.

Dei um tempo e fui pra lá. Ele estava com uma garota feia no colo. Não me viu de cara.

Eu fui me escondendo ate que estávamos frente a frente, do outro lado da rua.
Na sua sengraceza ele foi tirando a feia do colo, ela sem entender nada.

Eu me aproximei friamente. Ele me apresentou sua “amiga”.

Eu conversei friamente com ela e com os outros amigos, dei a volta e caminhei pra casa.
Antes de sair ainda disse em tom o mais naturalmente hipócrita que eu consegui:
- fica a vontade.

Segunda feira eu saí bem cedo, passei na casa da Chau e pedi aquela musica da Vanessa da Mata – é so isso, não tem mais jeito...

Quando eu cheguei em casa, era ainda meio cedo ele não estava dormindo.

Eu coloquei a música no repeat, e pedi que ele arrumasse mais uma vez suas coisas.

Ele chorou, dizendo que me amava, que ela era só uma amiga, e que não tinha nada a ver.

Tirou o anel que eu lhe dera e chorou forte.

Eu o abracei, e pedi que ficasse.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

o sexo e o cerebro não são músculos


Professor Walter Matias (UFAL)

O sexo e o cérebro não são músculos, nem podem ser. Disso decorrem várias conseqüências importantes, das quais esta não é a menor: não amamos o que queremos, mas o que desejamos, mas o que amamos e que não escolhemos. Como poderíamos escolher nossos desejos ou nossos amores, se só podemos escolher – ainda que entre vários desejos diferentes, entre vários amores diferentes – em função deles? O amor não se comanda e não poderia, em conseqüência, ser um dever. Sua presença num tratado das virtudes torna-se, por conseguinte, problemática? Talvez. Mas devemos dizer também que virtude e dever são duas coisas diferentes (o dever é uma coerção, a virtude, uma liberdade), ambas necessárias, claro, solidárias uma da outra, evidentemente, mas antes complementares, até mesmo simétricas, do que semelhantes ou confundidas. Isso é verdade, parece-me, para qualquer virtude: quanto mais somos generosos, por exemplo, menos a beneficência aparece como dever, isto é, como uma coerção. Mas é verdade a fortiriori para o amor. “O que fazemos por amor sempre se consuma além do bem e do mal”, dizia Nietzsche. Eu não iria tão longe, já que o amor é o próprio bem. Mas além do dever e do proibido, sim, quase sempre, e tanto melhor! O dever é uma coerção (um “jugo”, diz Kant), o dever é uma tristeza, ao passo que o amor é uma espontaneidade alegre. “O que fazemos por coerção”, escreve Kant, “não fazemos por amor.” Isso se inverte: o que fazemos por amor não fazemos por coerção, nem, portanto, por dever. Todos sabemos disso, e sabemos também que algumas de nossas experiências mais evidentemente éticas não têm, por isso, nada a ver com a moral, não porque a contradizem, é claro, mas porque não precisam de suas obrigações. Que mãe alimenta o filho por dever? E há expressão mais atroz do que dever conjugal? Quando o amor existe, quando o desejo existe, para que o dever? Que, no entanto, existe uma virtude conjugal, que existe uma virtude maternal, e no próprio prazer, no próprio amor, não há a menor dúvida! Pode-se dar o peito, pode-se dar a si mesma, pode-se amar, pode-se acariciar, com mais ou menos generosidade, mais ou menos doçura, mais ou menos pureza, mais ou menos fidelidade, mais ou menos prudência, quando necessário, mais ou menos humor, mais ou menos simplicidade, mais ou menos boa-fé, mais ou menos amor… Que outra coisa é alimentar o filho ou fazer amor virtuosamente, isto é, excelentemente? Há uma maneira medíocre, egoísta, odienta às vezes de fazer amor. E há outra, ou várias outras, tantos quantos são os indivíduos e os casais, de fazê-lo bem, o que é bem-fazer, o que é virtude. O amor físico não é mais que um exemplo, que seria tão absurdo superestimar, como muitos fazem hoje em dia, como foi, durante séculos, diabolizar. O amor, se nasce da sexualidade, como quer Freud e como acredito, não poderia reduzir-se a ela, e em todo caso vai muito além de nossos pequenos ou grandes prazeres eróticos. É toda a nossa vida, privada ou pública, familiar ou profissional, que só vale proporcionalmente ao amor que nela pomos ou encontramos. Por que seríamos egoístas, se não amássemos a nós mesmos? Por que trabalharíamos, se não fosse o amor ao dinheiro, ao conforto ou ao trabalho? Por que a filosofia, se não fosse o amor à sabedoria? E, se eu não amasse a filosofia, por que todos estes livros? Por que este, se eu não amasse as virtudes? E por que você o leria, se não compartilhasse algum desses amores? O amor não se comanda, pois é o amor que comanda.Isso também é válido, obviamente, em nossa vida moral ou ética. Só necessitamos de moral em falta de amor, repitamos, e é por isso que temos tanta necessidade de moral! É o amor que comanda, mas o amor faz falta: o amor comanda em sua ausência e por essa própria ausência. É o que o dever exprime ou revela, o dever que só nos constrange a fazer aquilo que o amor, se estivesse presente, bastaria, sem coerção, para suscitar. Como o amor poderia comandar outra coisa que não ele mesmo, que não se comanda, ou outra coisa pelo menos que não o que se assemelha a ele? Só se comanda a ação, e isso diz o essencial: não é o amor que a moral prescreve, é realizar, por dever, essa própria ação que o amor, se estivesse presente, já teria livremente consumado. Máxima do dever: Age como se amasses.No fundo, é o que Kant chamava de amor prático: “O amor para com os homens é possível, para dizer a verdade, mas não pode ser comandado, pois não está ao alcance de nenhum homem amar alguém simplesmente por ordem. É, pois, simplesmente o amor prático que está incluído nesse núcleo de todas as leis. […] Amar o próximo significa praticar de bom grado todos os seus deveres para com ele. Mas a ordem que faz disso uma regra para nós também não pode comandar que tenhamos essa intenção nas ações conformes ao dever, mas simplesmente que tendamos a ela. Porque o mandamento de que devemos fazer alguma coisa de bom grado é em si contraditório.” O amor não é um mandamento: é um ideal (“o ideal da santidade” diz Kant). Mas esse ideal nos guia, e nos ilumina.Não nascemos virtuosos, mas nos tornamos. Como? Pela educação: pela polidez, pela moral, pelo amor. A polidez, como vimos, é um simulacro de moral: agir polidamente é agir como se fôssemos virtuosos. Pelo que a moral começa, no ponto mais baixo, imitando essa virtude que lhe falta e de que no entanto, pela educação, ele se aproxima e nos aproxima. A polidez, numa vida bem conduzida, tem por isso cada vez menos importância, ao passo que a moral tem cada vez mais. É o que os adolescentes descobrem e nos fazem lembrar. Mas isso é apenas o início de um processo, que não poderia deter-se aí. A moral, do mesmo modo, é um simulacro de amor: agir moralmente é agir como se amássemos. Pelo que a moral advém e continua, imitando esse amor que lhe falta, que nos falta, e de que no entanto, pelo hábito, pela interiorização, pela sublimação, ela também se aproxima e nos aproxima, a ponto às vezes de se abolir nesse amor que a atrai, que a justifica e a dissolve. Agir bem é, antes de tudo, fazer o que se faz (polidez), depois o que se deve fazer (moral), enfim, às vezes, é fazer o que se quer, por pouco que se ame (ética). Como a moral liberta da polidez consumando-a (somente o homem virtuoso não precisa mais agir como se o fosse), o amor, que consuma por sua vez a moral, dela nos liberta: somente quem ama não precisa mais agir como se amasse. É o espírito dos Evangelhos (“Ama e faz o que quiseres”), pelo que Cristo nos liberta da Lei, explica Spinoza, não a abolindo, como queria estupidamente Nietzsche, mas consumando-a (“Não vim para revogar, vim para cumprir…”), isto é, comenta Spinoza, confirmando-a e inscrevendo-a para sempre “no fundo dos corações”. A moral é esse simulacro de amor, pelo qual o amor, que dela nos liberta, se torna possível. Ela nasce da polidez e tende ao amor; ela nos faz passar de uma a outro. É por isso que, mesmo austera, mesmo desagradável, nós a amamos.Além disso cumpre amar o amor? Sem dúvida, mas nós de fato o amamos (pois amamos pelo menos ser amados), ou a moral nada poderia por quem não o amasse. Sem esse amor ao amor estaríamos perdidos, e é essa talvez a verdadeira definição do inferno, quero dizer da danação, da perdição, aqui e agora. Cumpre amar o amor ou não amar nada, amar o amor ou se perder. De outro modo, que coerção poderia haver? Que moral? Que ética? Sem o amor, o que restaria de nossas virtudes? E que valeriam elas se não as amássemos? Pascal, Hume e Bergson são mais esclarecedores aqui do que Kant: a moral vem mais do sentimento do que da lógica, mais do coração do que da razão, e a própria razão só comanda (pela universalidade) ou só serve (pela prudência) tanto quanto o desejarmos. Kant é engraçado quando pretende combater o egoísmo ou a crueldade com o princípio da não-contradição! Como se aquele que não hesita em mentir, em matar, em torturar, fosse preocupar-se com que a máxima de sua ação pudesse ou não ser erigida, sem contradição, em lei universal! Que lhe importa a contradição? Que lhe importa o universal? Só precisamos de moral em falta de amor. Mas só somos capazes de moral, e só sentimos essa necessidade, pelo pouco de amor, ainda que a nós mesmos, que nos foi dado, que soubemos conservar, sonhar ou reencontrar…O amor é portanto primeiro, não em absoluto, sem dúvida (pois então seria Deus), mas em relação à moral, ao dever, à Lei. É o alfa e o ômega de toda virtude. Primeiro a mãe e seu filho. Primeiro o calor dos corpos e dos corações. Primeiro a fome e o leite. Primeiro o desejo, primeiro o prazer. Primeiro a carícia que aplaca, primeiro o gesto que protege ou alimenta, primeiro a voz que tranqüiliza, primeiro esta evidência: uma mãe que amamenta; depois esta surpresa: um homem sem violência, que vela uma criança adormecida. Se o amor não fosse anterior à moral, o que saberíamos da moral? E o que ela nos tem a propor de melhor que o amor do qual ela vem, que lhe falta, que a move, que a atrai? O que a torna possível é também aquilo mesmo a que ela tende, e que a liberta. Círculo? Se quisermos, mas não vicioso, pois evidentemente não é o mesmo amor no princípio e no fim. Um é a condição da Lei, sua fonte, sua origem. O outro seria antes seu efeito, sua superação e seu mais belo êxito. É o alfa e o ômega das virtudes, dizia eu, em outras palavras, duas letras diferentes, dois amores diferentes (pelo menos dois!), e, de um ao outro, todo o alfabeto de viver… Círculo, pois, mas virtuoso, pelo que a virtude se torna possível. Não se sai do amor, já que não se sai do desejo. Mas o desejo muda de objeto, se não de natureza, mas o amor se transforma e nos transforma. Isso justifica que, antes de falar de virtude propriamente, tomemos um certo recuo."