caio - procedimento de rotina

a partir da leitura de Caio Fernando Abreu, passei a olhar para a minha própria condição homossexual e a procurar nela uma consciência e uma poesia. Esse blog mostra todo esse processo de buscas e pesquisas.

domingo, 20 de setembro de 2009

pelo menos

Pelo menos

Será que vou salvar a multidão num programa de tv?
Ou pelo menos ser entrevistado sobre aids hiv?
Será que vou ser o mais lindo do planeta e aparecer nas revistas com uma cara de buceta?
OU pelo menos me casar com italiano que só passa no Brasil as férias de fim de ano?
Será que vou criar uma seita milionária, e viro deus no último instante?
Ou pelo menos meus amigos, vão me achar interessante?

Será que já e careta escrever Romeu e Julieta?
Será que seria otário se eleger presidente operário?
Será que melhoraria minha imagem se eu descobrisse a clonagem?
Pelo menos muita miséria ainda dói ainda pra que eu possa ser herói.

...


E se nada der certo,
Tento me tornar artista contemporâneo.
Ou coordenador de cursos na universidade federal
Ou por via das dúvidas, tento outra vez, mais uma vez,
Ser, pelo menos,
legal.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

Você sabia sorrir


sabia quando era a hora
sabia abraçar e beijar.
sabia quando era a hora
Sabia tocar,

Sabia em que lugares
sabia quando era a hora
sabia não saber a hora de voltar
sabia entar e ficar.
sabia mexer em todos os botões
sabia mentir
sabia que eu saberia
sabia chorar quando era necessário.
sabia quando era a hora

Sabia ficar.
Sabia que não saberia pra onde ir
Sabia que eu também não saberia
Sabia dizer que não e sabia voltar atrás
Sabia dizer que sim e não ter como voltar
Sabia que nunca acabaríamos assim
Sabia que tudo acaba um dia
Sabia que não era agora
Sabia o quanto era difícil
Sabia o quanto era fácil
Sabia fazer o jogo
Sabia que não era a hora

Sabia que horas eu chegaria
Sabia o que fazer e o que não fazer até lá
Sabia não ter ciúmes
Sabia chorar de amores
Sabia sorrir de favores
Sabia rir dos meus modos
Sabia abraçar, beijar, fornicar como ninguém
Sabia dosar cada carinho
Sabia dosar cada palavra
Sabia sussurrá-las no meu ouvido, no meu pescoço
Sabia pedir como ninguém
Sabia implorar se fosse preciso
Sabia zangar-se


Sabia menosprezar
Sabia lembrar de outros amores
Sabia quando era a hora
Sabia fingir displicência,

Sabia que isso irritava ainda mais

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

encontros com andersons


Foi assim

Essa é a historia.
Eu fui pra praia. É claro que eu tava querendo mais que o sol, porque já era fim de tarde e muito mais que o mar, porque a maré já tava alta.
Ele passa. Eu olho. Ele se volta. Finje que tava olhando pra qualquer outra coisa. Eu vou no encalço.
Ele para numa pedra e eu finjo que ia mesmo parar por ali.
-Oi.
-Oi.
-Qual seu nome?
-Anderson.
Como nunca viesse o “e o seu?”, eu disse – o meu é Jorge.
Tinha um cara surfando la no meio.
Já que ele não falou mais nada.- Você gosta de surfar?
- gosto.
Já que não veio um “e você?”
- eu também.
- Você sabe surfar? Emendei logo, antes que caísse aquele silencio de novo.
- sei.
E ai não tive como evitar um silencio bem comprido.
Examinei o corpo. As mãos. Os pés. As cochas. O tórax.
Disfarcei o quanto pude, claro!pra olhar tudo o que pudesse.
Ainda bem que depois disso. Ainda tinha o surfista, o mar e o fim de tarde, pra onde eu podia olhar além do corpo dele, e fingir que não queria nada.
Aí ele quebrou o silencio – tchau!
Tchau!? – o meu era mais sem graça que o dele.
Fui seguindo até ele sumir-se, e o segui o quanto pude.
Ele ainda olhou pra traz enquanto eu fingia que ia comprar umas frutas.
.....

Num outro dia eu vinha descendo com o Zé, uma mulher passou e nos pediu cigarro, a gente inventou uma desculpa e não deu. Ele vinha logo atrás e pediu cigarros também, antes que o Zé desse o cigarro dele pro cara eu tirei da minha boca e dei pra ele. Ele riu.
A gente continuou andando, eu olhei pra trás no mesmo instante em que ele olhou também, os dois fingiram qualquer coisa, pra não sorrir de novo um pro outro.

Era uma outra noite. A Coco me deixou na praça. Eu desci do carro, ele me apareceu do nada.
- Vai dormir logo?
Eu tava morrendo de sono e tinha que acordar cedo na manhâ seguinte.
- não. Respondi..
- eu vou la pra sua casa.
No meu fingimento de normalidade falsa dei umas gaquejadas. E fui sem pressa pra casa, pra não dá bandeira. Em menos de quinze minutos, dei uma visage total no ambiente. Fingi pra mim mesmo que estava relaxado e fumei um cigarro atrás do outro.

Bateram na porta.
Ele – oi!
Depois de uma lida sem nexo consegui abrir a porta – ele entrou.

Dentro da minha casa ele parecia ainda mais belo nos seus 23, 24 anos.

Foi um amor meio sem graça, naquela noite. Mas tinha uma esperança, que eu procurava onde ela estava, sem nunca encontrar em nada.

Ele não foi mais embora.

Problema.

Acho que eu não sabia viver com ou sem alguém.

Saia de casa ele tava dormindo. Eu chegava ele ainda estava dormindo.
Tinha um grande incomodo em ver minha casa invadida. Compreensível. Quanto tempo faz que eu não morava com alguém? Eu nunca morara com alguém.



Os vizinhos começaram a reclamar do som alto todos os dias.

Quando eu chegava encontrava um som bem baixinho na casa. Ele dormindo.

Eu perguntava, ele negava.

Sumiu uma sandália. Ele não sabia.

Eu comecei a me irritar. A gente se separa. Ele diz que para sempre.
No dia seguinte ele estava na porta.

- Posso dormir com você? So hoje!

- Ta bom.

- Eu te amo.
- Eu te amo.

O sexo era quase bom.

Ele não foi embora.

Num certo dia ele sai de casa, era sábado.
Daqui a pouco eu volto.

10, 11, meia noite, uma duas, duas e pouco...
Eu como não conseguia dormir fiquei todo tempo pensando as palavras que eu diria pra dizer adeus pra sempre de novo.

A mesma música – under my umbrella!! O tempo todo no som.

Duas e mais um pouco...
Bate na porta.

Eu abro correndo. Ele tá bêbado.

- Eu te amo.;
- Eu te amo.

O sexo foi quase ruim

Chorei sozindo, enquanto ele roncava horrores. E falava dormindo coisas que eu me esforçava em vão pra entender.



No domingo ele também saiu pra voltar logo e depois das 11 ele apareceu.

- Eu to na praça com uns amigos.

Dei um tempo e fui pra lá. Ele estava com uma garota feia no colo. Não me viu de cara.

Eu fui me escondendo ate que estávamos frente a frente, do outro lado da rua.
Na sua sengraceza ele foi tirando a feia do colo, ela sem entender nada.

Eu me aproximei friamente. Ele me apresentou sua “amiga”.

Eu conversei friamente com ela e com os outros amigos, dei a volta e caminhei pra casa.
Antes de sair ainda disse em tom o mais naturalmente hipócrita que eu consegui:
- fica a vontade.

Segunda feira eu saí bem cedo, passei na casa da Chau e pedi aquela musica da Vanessa da Mata – é so isso, não tem mais jeito...

Quando eu cheguei em casa, era ainda meio cedo ele não estava dormindo.

Eu coloquei a música no repeat, e pedi que ele arrumasse mais uma vez suas coisas.

Ele chorou, dizendo que me amava, que ela era só uma amiga, e que não tinha nada a ver.

Tirou o anel que eu lhe dera e chorou forte.

Eu o abracei, e pedi que ficasse.