caio - procedimento de rotina
a partir da leitura de Caio Fernando Abreu, passei a olhar para a minha própria condição homossexual e a procurar nela uma consciência e uma poesia. Esse blog mostra todo esse processo de buscas e pesquisas.
quinta-feira, 3 de setembro de 2009
encontros com andersons
Foi assim
Essa é a historia.
Eu fui pra praia. É claro que eu tava querendo mais que o sol, porque já era fim de tarde e muito mais que o mar, porque a maré já tava alta.
Ele passa. Eu olho. Ele se volta. Finje que tava olhando pra qualquer outra coisa. Eu vou no encalço.
Ele para numa pedra e eu finjo que ia mesmo parar por ali.
-Oi.
-Oi.
-Qual seu nome?
-Anderson.
Como nunca viesse o “e o seu?”, eu disse – o meu é Jorge.
Tinha um cara surfando la no meio.
Já que ele não falou mais nada.- Você gosta de surfar?
- gosto.
Já que não veio um “e você?”
- eu também.
- Você sabe surfar? Emendei logo, antes que caísse aquele silencio de novo.
- sei.
E ai não tive como evitar um silencio bem comprido.
Examinei o corpo. As mãos. Os pés. As cochas. O tórax.
Disfarcei o quanto pude, claro!pra olhar tudo o que pudesse.
Ainda bem que depois disso. Ainda tinha o surfista, o mar e o fim de tarde, pra onde eu podia olhar além do corpo dele, e fingir que não queria nada.
Aí ele quebrou o silencio – tchau!
Tchau!? – o meu era mais sem graça que o dele.
Fui seguindo até ele sumir-se, e o segui o quanto pude.
Ele ainda olhou pra traz enquanto eu fingia que ia comprar umas frutas.
.....
Num outro dia eu vinha descendo com o Zé, uma mulher passou e nos pediu cigarro, a gente inventou uma desculpa e não deu. Ele vinha logo atrás e pediu cigarros também, antes que o Zé desse o cigarro dele pro cara eu tirei da minha boca e dei pra ele. Ele riu.
A gente continuou andando, eu olhei pra trás no mesmo instante em que ele olhou também, os dois fingiram qualquer coisa, pra não sorrir de novo um pro outro.
Era uma outra noite. A Coco me deixou na praça. Eu desci do carro, ele me apareceu do nada.
- Vai dormir logo?
Eu tava morrendo de sono e tinha que acordar cedo na manhâ seguinte.
- não. Respondi..
- eu vou la pra sua casa.
No meu fingimento de normalidade falsa dei umas gaquejadas. E fui sem pressa pra casa, pra não dá bandeira. Em menos de quinze minutos, dei uma visage total no ambiente. Fingi pra mim mesmo que estava relaxado e fumei um cigarro atrás do outro.
Bateram na porta.
Ele – oi!
Depois de uma lida sem nexo consegui abrir a porta – ele entrou.
Dentro da minha casa ele parecia ainda mais belo nos seus 23, 24 anos.
Foi um amor meio sem graça, naquela noite. Mas tinha uma esperança, que eu procurava onde ela estava, sem nunca encontrar em nada.
Ele não foi mais embora.
Problema.
Acho que eu não sabia viver com ou sem alguém.
Saia de casa ele tava dormindo. Eu chegava ele ainda estava dormindo.
Tinha um grande incomodo em ver minha casa invadida. Compreensível. Quanto tempo faz que eu não morava com alguém? Eu nunca morara com alguém.
Os vizinhos começaram a reclamar do som alto todos os dias.
Quando eu chegava encontrava um som bem baixinho na casa. Ele dormindo.
Eu perguntava, ele negava.
Sumiu uma sandália. Ele não sabia.
Eu comecei a me irritar. A gente se separa. Ele diz que para sempre.
No dia seguinte ele estava na porta.
- Posso dormir com você? So hoje!
- Ta bom.
- Eu te amo.
- Eu te amo.
O sexo era quase bom.
Ele não foi embora.
Num certo dia ele sai de casa, era sábado.
Daqui a pouco eu volto.
10, 11, meia noite, uma duas, duas e pouco...
Eu como não conseguia dormir fiquei todo tempo pensando as palavras que eu diria pra dizer adeus pra sempre de novo.
A mesma música – under my umbrella!! O tempo todo no som.
Duas e mais um pouco...
Bate na porta.
Eu abro correndo. Ele tá bêbado.
- Eu te amo.;
- Eu te amo.
O sexo foi quase ruim
Chorei sozindo, enquanto ele roncava horrores. E falava dormindo coisas que eu me esforçava em vão pra entender.
No domingo ele também saiu pra voltar logo e depois das 11 ele apareceu.
- Eu to na praça com uns amigos.
Dei um tempo e fui pra lá. Ele estava com uma garota feia no colo. Não me viu de cara.
Eu fui me escondendo ate que estávamos frente a frente, do outro lado da rua.
Na sua sengraceza ele foi tirando a feia do colo, ela sem entender nada.
Eu me aproximei friamente. Ele me apresentou sua “amiga”.
Eu conversei friamente com ela e com os outros amigos, dei a volta e caminhei pra casa.
Antes de sair ainda disse em tom o mais naturalmente hipócrita que eu consegui:
- fica a vontade.
Segunda feira eu saí bem cedo, passei na casa da Chau e pedi aquela musica da Vanessa da Mata – é so isso, não tem mais jeito...
Quando eu cheguei em casa, era ainda meio cedo ele não estava dormindo.
Eu coloquei a música no repeat, e pedi que ele arrumasse mais uma vez suas coisas.
Ele chorou, dizendo que me amava, que ela era só uma amiga, e que não tinha nada a ver.
Tirou o anel que eu lhe dera e chorou forte.
Eu o abracei, e pedi que ficasse.
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